REPÚBLICA DE
MOÇAMBIQUE
Intervenção de
Sua Excelência Carlos Agostinho do Rosário, Primeiro-Ministro da República de Moçambique
SITUAÇÃO DA DÍVIDA EXTERNA DE MOÇAMBIQUE
Matola, 28 de Abril de 2016
Moçambicanas e Moçambicanos
- Inicio
a minha intervenção saudando a todo povo moçambicano em nome de Sua
Excelência Filipe Jacinto Nyusi, Presidente da República, e do Governo de
Moçambique;
- Estamos
aqui hoje para, partilhar a situação económica do nosso País, sobretudo o
tema actual que é a dívida, particularmente a externa bem como as acções
que o Governo se propõe a tomar
para inverter o actual cenário;
- Vivemos
hoje um momento particularmente atipico, influenciado pela actual conjuntura
interna e externa, que afecta o desempenho da nossa economia e
consequentemente o dia-a-dia de
cada moçambicano.
Caros Compatriotas
- Reitero
que vamos partilhar com toda abertura a informação sobre a situação
económica do País e as principais razões das dificuldades económicas que o
País enfrenta.
- Após
vários anos consecutivos de crescimento economico rápido, o nosso país tem
registado sinais de relativo abrandamento do ritmo de crescimento.
- Quais
são as causas
então?
·
A nossa economia tem uma baixa base produtiva! Isto é,
o nosso consumo não é satisfeito, em grande medida, pela produção nacional e,
por isso, temos que recorrer às importações, donativos e dividas. Este é o
principal problema da nossa economia, consumimos mais do que produzimos.
·
O País tem vindo a conviver com este problema
estrutural de estarmos a importar mais do que exportamos;
·
A título de exemplo,
do período de 2013 a 2015 o País importou bens e serviços, excluindo os grandes
projectos, cerca de quatro vezes mais do que exportou, senão vejamos:
Ø Em
2013, o País exportou USD 1.926 milhões e importou USD 6.546 milhões;
Ø Em
2014, exportou USD 1.477 milhões e importou 6.465 milhões; e,
Ø Em
2015, exportou USD 1.356 milhões e importou USD 6.660 milhões.
·
O problema estrutural e crónico de o país gastar mais do que produz
internamente tem sido também agravado pelo facto de os preços dos principais
produtos que exportamos estarem a resgistar uma queda acentuada no mercado
internacional.
·
A título exemplificativo, em 2015, a queda do preço do
alumínio foi de 28%, algodão 12.5% e açúcar 20.9%, o que diminui a entrada de
divisas para o nosso país, necessarias para cobrir as importações dos produtos
que ainda não produzimos o suficiente.
·
A actividade agricola que emprega a maior parte da população moçambicana que contribui com cerca de um quarto do total de bens e serviços que o país produz é afectada pelas secas e cheias aliada as
acções de desastabilização da Renamo, que mantem ilegalmente na posse armas.
·
A China, segunda maior economia do mundo, abrandou o
seu ritmo de crescimento economico e consequentemnete dimuniu as suas importações
globais , incluindo produtos dos Países africanos.
·
O problema da queda contínua dos preços dos produtos
de exportação não afectou apenas o nosso país, mas também afectou Países ricos
em recursos naturais, tais como, Angola, Zambia, Africa do Sul;
·
o investimento directo estrangeiro têm estado a
reduzir-se nos últimos tempos, devido a combinação de causas relativas a
conjuntura interna e internacional.
·
Os desembolsos dos Parceiros de Cooperação Internacional,
para 2016, estão atrasados, devido a conjuntura eocnomica nos respectivos
Países.
·
Nos últimos anos o apoio dos parceiros de cooperação
internacional têm estado a reduzir. Por
exemplo, em 2013, o Apoio Geral ao Orçamento do Estado foi de USD 457 milhões, tendo,
em 2014, reduzido para USD 389 milhões e em 2015 para USD 297 milhões, devido a
conjuntura eocnomica nos respectivos Países.
Moçambicanas e
Moçambicanos
- Porque
o nível das exportações do nosso País está muito longe das nossas
necessidades de importações, estas importações estão a ser pagas,
particularmente por empréstimos e donativos externos.
- Nos
últimos anos, o País registou uma subida do endividamento externo,
reflectindo a mobilização de recursos externos feita com vista a financiar
o desenvolvimento de infra-estruturas e segurança do País. Para a concretização
deste objectivo, foram emitidas garantias do Estado, a favor de algumas
empresas.
- O
valor global
da dívida pública, incluindo garantias emitidas pelo Governo e dívidas
contraidas pelo Banco de Moçambique para financiamento à Balança de
pagamentos, reportada à 31 de Dezembro de 2015 é de USD 11,64 mil milhões.
Deste montante, USD 9.89 mil
milhões corresponde a dívida externa, incluindo USD 247 milhões do Banco
de Moçambique.
- O
saldo da dívida interna, a 31 de Dezembro de 2015, é USD 1.75 mil milhões,
estando ainda em reconciliação USD 233 milhões.
- De
destacar que do endividamento do Estado, cerca de 60%, foi alocado para a
infra-estruturas de estradas, pontes, energia, água e transportes, 17%
para agricultura e educação e o remanescente para os outros sectores.
Compatriotas
- No
que se refere ao tema actual que é a dívida externa ligada as empresas
EMATUM, PROINDICUS e Mozambique Asset Management (MAM), gostaria de
partilhar com o povo moçambicano as seguintes informações:
- Como
é do conhecimento público, a Dívida
da EMATUM, no valor de USD 850 milhões, dos quais USD 350 milhões têm como finalidade
importar embarcações e equipamentos de pesca e os USD 500 milhões para a
protecção costeira.
- Os
ganhos com a transformação da dívida comercial para soberana são os seguintes:
·
Em vez do Governo pagar anualmente o valor de USD 200
milhões, incluindo capital e juro, passam a ser feitos de forma mais suave para
o nosso País:
Ø Pagamento apenas,
em 7 anos, a partir de 2017, de juros anuais no valor de USD 78 milhões
pagáveis semestralmente (cerca de USD 39 milhões/semestre); e
Ø Pagamento único do
capital da dívida em 2023 (cerca de USD 731 milhões).
- Para
assegurar que a EMATUM pague a sua parte está em curso a identificação de um
parceiro estratégico que possa trazer experiência, capacidade técnica para
rentabilização da empresa.
Caros Compatriotas
- A
par da dívida da EMATUM, o Governo no período de 2013-2014, emitiu
garantias a favor dos créditos contraídos por entidades económicas,
nomeadamente:
·
Proindicus, S.A. no valor de USD 622 milhões; e
·
MAM, S.A. no valor de USD 535 milhões.
- Proindicus,
S.A, tem como objectivo prestar serviços de segurança as empresas de
hidrocarbonetos e contribuir para protecção das embarcações maritimas e
tráfego e fornecer serviços de busca e salvamento de embarcações nas águas
territoriais de Moçambique.
- MAM,
S.A tem como objectivo prestar serviços a PROINDICUS e outras empresas,
para evitar a saida de divisas para o exterior no processo de reparação e
manutenção de embarcações destas empresas.
- Para
assegurar que as dívidas destas empresas não recaiam no bolso do cidadão,
o Governo está a trabalhar com as empresas com vista a asseguar que
iniciem as suas actividades e honrem os seus compromissos;
- Queremos
deixar ficar claro, caros compatriotas, que no âmbito destas dívidas, o
que for do interesse público, o Estado irá assumir e a parte referente a
componente comercial deverá ser paga pelas respectivas empresas;
Caros Compatriotas
- Esta
informação deveria ter sido
partilhada em tempo útil com o povo moçambicano e com os parceiros de
cooperação internacional, incluindo o FMI e o Banco Mundial.
- O
momento sensível caracterizado pela instabilidade aliado ao processo da
transição de um Governo anterior para o novo ciclo de Governação que
iniciou em 2015, fez com que tivessemos conhecimento e contacto gradual
com os dossiers destas dividas à medida que fossemos aprofundando o já
conhecido;
- O
Governo enviou uma delegação à
Washington para junto do FMI e Banco Mundial para partilhar e esclarecer
informação relativa a toda dívida do País, em particular as garantias
emitidas a favor da PROINDICUS e MAM.
- No
âmbito da transparência, o Governo
tomou iniciativa, durante as conversações com o FMI, de informar a
existência de uma dívida bilateral contraida entre 2009 e 2014, no
montante global de USD 221,4 milhões no quadro do reforço da capacidade
para assegurar a ordem e segurança pública.
Caros Compatriotas
- Como
Resultados da Visita a Washinghton, temos a destacar os seguintes:
·
Reconhecimento pelo FMI e Banco Mundial e pelo Governo
Norte-Americano do compromisso e da seriedade do Governo Moçambicano na busca
de soluções para a questão da dívida pública;
·
Reafirmada a vontade de manter as relações de
cooperação entre o FMI e o Governo de Moçambique.
- Estamos
a trabalhar em conjunto para:
Ø Restabelecimento da plena confiança e consolidar
a transparência fiscal de modo a que situações similares não voltem a ocorrer.
Ø Avaliar
e determinar o impacto macroeconómico da dívida, com vista a redesenhar os
programas futuros com base na informação disponivel.
- No
encontro mantido com o Banco Mundial, foi-nos informado que os desembolsos
de apoio ao orçamento previstos para o ano em curso, serão feitos após a conclusão dos trabalhos que decorrem
com o Fundo Monetário Internacional.
- Em
tempo oportuno, o Governo irá
providenciar toda informação sobre a dívida pública à Assembleia da
República.
Caros Compatriotas,
- Porque
é que no nosso País o Metical deprecia-se e o custo de vida tem estado aumentar? A
resposta a esta questão não pode ser somente imputada a questão do
endividamento. O Metical deprecia-se e o custo de vida aumenta porque:
·
Primeiro -
Produzimos e exportamos pouco, consequentemente, observa-se uma menor entrada
de divisas;
·
Segundo – O Apoio
Geral ao Orçamento do Estado, pelos parceiros de cooperação internacional,
reduziu; e
·
Terceiro – O
Investimento Directo Estrangeiro também reduziu.
- Porque
são necessários mais Meticais para a compra da mesma quantidade de
dólares, os preços internos têm tendência a subir para reflectir o efeito
da depreciação cambial.
- Mesmo
os bens e serviços que não têm relação com o dólar e com o mercado
externo, tais como cacana, mandioca seca, rendas de casa, restaurantes,
cabelereiros, os seus preços estão a subir, numa tentativa de recuperar os
rendimentos dos que produzem/vendem esses bens e serviços. Esta situação acaba
afectando o custo de vida no nosso País.
- O
facto de a economia americana estar a crescer e traduzir-se no
fortalecimento do dólar americano, face às moedas internacionais, é um
choque negativo, sim, mas que poderia ser amortecido caso a nossa base
produtiva fosse maior e competitiva.
- Resumindo,
para conter a depreciação acentuada do Metical, face ao dólar
norte-americano e o aumento do custo de vida, é necessário:
·
Alargarmos e diversificarmos a base
produtiva e aumentarmos a produtividade da economia nacional, capitalizando as
potencialidades das quatro áreas de
concentração e catalisadoras sem descurar outras, que o nosso País tem
vantagens comparativas que facilmente podem ser converter em vantagens
competitivas a saber: Agricultura, Energia, Infraestruturas e Turismo;
O financiamento das actividades previstas para estes
quatro sectores em que o Governo vai actuar de forma mais concentrada e
catalisadora, será através de linhas de crédito concessionais já identificadas
e em negociação com os respectivos financiadores e pelo sector privado, através
de Parcerias Público-Privado.
·
Melhorar a qualidade e eficiência da
despesa pública, com maior impacto no capital humano e operacionalização das
quatro áreas de concentração e
catalisadoras; e
·
Racionalização da despesa pública.
·
Assegurar que os
projectos na área de recursos naturais se desenvolvam de acordo com o
cronograma acordado, esperando que a decisão final sobre o investimento ocorra
ainda este ano. As negociações com Anadarko e a ENI estão praticamente
concluidas.
- Esta acção é importante para estimular a
economia, devido aos efeitos multiplicadores decorrentes da construção das
fábricas de liquefacção do gás natural.
Caros Compatriotas
- Apesar
da conjuntura adversa, internacional e interna (cheias, seca e as condenáveis acções de
desestabilização da Renamo na zona Centro do País), o País continua a
crescer.
- Em
2015, o crescimento da economia atingiu 6.3%. Esta taxa de crescimento
indica que o País continua no bom caminho, posicionando-se em terceiro lugar na SADC, depois da
República Democrática do Congo e da Tanzânia que registaram taxas de
crescimento de 8.1% e 6.9%, respectivamente.
- A
inflação média situou-se em 3.55%, abaixo da meta de 5.1%. No entanto, a
inflação acumulada, em Dezembro, foi de 10.55%, reflectindo a subida mais
acentuada de preços, em Dezembro, de mais de 4 pontos percentuais.
- Para
o ano em curso, 2016, está projectado um crescimento economico de 7%.
- Face
à persistência dos efeitos da conjuntura interna e internacional, o
Governo está a avaliar a possibilidade de propor a revisão da taxa de
crescimento económico.
Caros Compatriotas
- A
estabilidade e resiliência da nossa economia só se alcançarão com a
produção interna cada vez mais crescente, pois, nenhuma economia pode
viver e sustentar-se de empréstimos, importações e subsídios do Estado.
- A
conjuntura internacional que afecta muitos países do mundo,
particularmente os menos desenvolvidos que têm uma estrutura económica
débil e menos diversificada, como é o caso do nosso País, não deve
levar-nos a uma situação de desespero e nem desviar-nos dos objectivos
estratégicos constantes do Programa Quinquenal do Governo 2015-2019.
- Moçambique
é um país potencialmente rico, em recursos humanos e naturais. O potencial
agrícola, energético, turístico, bem como a sua localização
geoestratégica, fazem do nosso País um verdadeiro e natural ponto de
atenção e de atracção de investidores.
- Uma
das grandes lições a tirar da queda acentuada dos preços das
matérias-primas passa, necessariamente, pela aposta na transformação da
nossa economia, através da sua diversificação, aumentando a capacidade
produtiva e produtividade.
- A
diversificação da nossa economia vai garantir uma base sustentável de
produção que garanta a segurança alimentar, substituição de importações e
elevação de níveis de exportação, condições essenciais para uma
estabilidade macroeconómica, particularmente a taxa do câmbio do Metical e
redução do custo de vida e capacidade do país honrar com os seus compromissos
referentes ao serviço da dívida.
Caros Compatriotas,
- Acabamos
de partilhar a informação sobre a situação económica do País incluindo a
divida externa.
- Exortamos
a todos os moçambicanos:
·
Manter a serenidade e confiança no trabalho que o Governo
está a realizar para ultrapassar esta situação e mitigar os seus efeitos na
vida dos moçambicanos;
·
Com base nas
lições aprendidas, reforçar o sistema de controlo e transparência nas finanças
públicas.
Muito obrigado pela atenção dispensada.
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