CPLP:
um actor
que se firma cada vez mais no concerto das nações
Comunicação de Sua Excelência Armando Emílio Guebuza, Presidente da República
de Moçambique e Presidente em exercício da CPLP, por ocasião da apresentação do
balanço da Presidência de Moçambique na CPLP, na sessão de abertura da X
Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP.
Timor Leste, 23 de Julho de 2014
As nossas primeiras palavras são de agradecimento ao povo e governo
timorenses pelasmanifestações de amizade, carinho e pela hospitalidade que nos
têm dedicado desde a nossa chegada a esta lendária, bela e pitoresca cidade de Dili.
A nossa presença neste belo país constitui motivo de honra e júbilo para nós,
moçambicanos, pois:
v convoca para o nosso imaginário o processo da cristalização
das nossas relações de amizade e solidariedade que sustentaram a luta do povo timorense
pela sua independência; e
v consagra a comunhão de valores e princípios que transportaram:
o A esperança para onde havia desespero;
o O amor para onde havia ódio;
o A dignidade e auto-estima para onde antes havia apenas
humilhação e opressão.
Por isso, para o saudoso Presidente Samora Moisés Machel a independência
de Moçambique não estaria completa enquanto Timor Leste não conquistasse a sua.
Hoje, trazemos esta mensagem de saudação ao estoicismo, à persistência e
à heroicidade do povo timorense demonstrados até à vitória final. Por isso,
Moçambique sente-se muito honrado por ser o País que tem a honra de passar,
hoje, para as mãos dos nossos irmãos de Timor
Leste, através de si, Senhor Presidente, as pastas da Presidência da
CPLP. A História sabe fazer justiça!
Minhas Senhoras e Meus Senhores;
Saudamos a nossa organização pelos seus 18 anos de existência, pelo seu
percurso e pelas conquistas e realizações alcançadas. São 18 anos de luta cujos
resultados atestam o nosso compromisso e a determinação de fazermos da nossa
organização um instrumento eficaz ao
serviço dos nossos países e povos. Atestam, ainda, a nossa visão
colectiva de fazermos da nossa comunidade, uma comunidade relevante e com cada
vez maior visibilidade e acção no concerto das nações. Informados por esta
visão, quando, em Julho de 2012, assumímos a presidência da CPLP definímos como
nosso desígnio para o biénio 2012-2014,e nós citamos“Tornar a CPLP mais
proactiva, eficaz e relevante para responder à dinâmica dos desafios
actuais”.Fim de citação
Com este compromisso no horizonte trilhámos o nosso percurso como
organização e reafirmámos o imperativo de colocarmos em prática políticas,
estratégias e programas
que nos colocassem em posição de responder, de forma efectiva, articulada
e coordenada, aos desafios que os nossos países e a nossa comunidade enfrentam.
Neste sentido, durante o exercício da nossa presidência, pautámos pela
articulação e busca de consensos sobre as
mais diversas questões de interesse comunitário.É, pois, justo e salutar
que reconheçamos e saudemos o empenho, a dedicação e o contributo de todos os
Estados membros para os progressos alcançados no biénio que está agora a chegar
ao fim.Aproveitamos a ocasião para, de modo particular, expressarmos a nossa
inteira disponibilidade para partilhar a nossa experiência com a Presidência Timorense
do biénio 2014-2016, convictos e fazendo votos de muitos sucessos para si,
Senhor Presidente.
Informados, igualmente, por essa visão, promovemos a cooperação
intercomunitária que, para nosso agrado,conheceu uma evolução assinalável,
atendendo ao alargamento das áreas de intervenção, à melhoria da execução
técnica e à consistência dos resultados alcançados. Na verdade, ao longo do
presente biénio, as reuniões ministeriais aprovaram um conjunto de planos
estratégicos sectoriais, facto que se reveste de suma importância nas
acções visando uma melhor estruturação e eficácia das iniciativas de cooperação
a nível da CPLP.
Em contraste com a vontade expressa dos nossos países, de transformar a
CPLP na organização que todos almejamos, a exiguidade de recursos, sobretudo os
financeiros, para pôr em prática as acções que corporizam a vida da nossa organização,
constitui um sério desafio que demanda maior criatividade na gestão dos nossos
recursos e na mobilização de apoio multiforme.
Informados, ainda, por essa visão de conferir maior visibilidade à CPLP e
pelos princípios que norteiam o Estado de Direito Democrático, redobrámos as
nossas acções em prol da normalização da situação política e deretorno à ordem
constitucional na Guiné-Bissau. Por isso, fruto da nossa acção diplomática e da
parceria com a comunidade internacional, foi possível contribuir para queos
nossos irmãos, actores políticos da Guiné-Bissau,continuassem a assumir que
cabia a eles, em primeiro lugar, a responsabilidade de garantirem o resgate da
estabilidade e
do prestígio do seu belo País e que era sobre a sua liderança que o Povo
Guineense colocava, firmemente, os seus olhos e a esperança de um futuro melhor
para a Pátria de Cabral.O nosso apelo foi, felizmente, escutado pelos guineenses,
nacionalistas de valor, honra e fibra e, por
isso, hoje celebramos, com muita satisfação,o regresso deste país irmão e
Estado membro fundador da CPLP, ao convívio desta nossa família, uma vez
concluído o processo de restauração da
legalidade constitucional.
É, uma vez mais, com muita satisfação que saudamos o Senhor Presidente
(José Mário Vaz,) Presidente da República da Guiné-Bissau e ao Primeiro
Ministro (Domingos Simoes) da Guine Bissau , democraticamente eleitos nas últimas
eleições. Reiteramos-lhe, Senhor Presidente,as
nossas mais calorosas boas-vindas à CPLP, neste momento em que a
República da Guiné-Bissau retoma o seu legítimo e devido lugar no seio da nossa
Comunidade.
As nossas saudações são extensivas ao povo irmão guineense pela sua firme
determinação e pelo compromisso dereconciliar-se e restaurar a paz e a
estabilidade política no seu país, abrindo assim um novo capítulona sua
história, uma história de paz, progresso e bem-estar. Devem todos
manter-se unidos para consolidar estas conquistas e parao que a CPLP e as
demais organizações internacionais providenciaremem complemento ao que os
guineenses estão a fazer, eles próprios.
Celebrado o regresso da Guiné-Bissau ao nosso seio teremos, igualmente, a
oportunidade de considerar o primeiro alargamento da nossa Organização ao longo
dos seus 18 anos de existência, fruto de um processo de concertação política e
de diálogo consolidados.
Importa aqui sublinhar que o crescente número de Estados soberanos que de
nós se abeiram para obter o estatuto de Observador Associado da CPLP, espelha o
reconhecimento e crescente interesse que a nossa Organização tem despertado na
arena internacional. Estamos convictos que a abertura a terceiros impulsionará
a aceleração do processo de afirmação mundial da língua portuguesa nas culturas
desses países, bem assim na crescente internacionalização das nossas
potencialidades económicas.
Minhas Senhoras e Meus Senhores, Moçambique elegeu como tema para a sua
presidência que
chega assim ao fim “A CPLP e os desafios da Segurança Alimentar e
Nutricional”. Este tema traduz um dos desafios que a pobreza coloca aos
nossos povos e países, bem assim
o impacto da incerteza sobre o que comer na próxima refeição, numa
dimensão que ultrapassa a mera escassez de alimentos para ascender àcategoria
de um problema de saúde pública.
Foi ainda neste contexto que lançámos, no dia 20 de Fevereiro de 2014, a
Campanha “Juntos contra a Fome!
Alimentando a Esperança na CPLP”, com o objectivo principal de mobilizar recursos para o financiamento de
projectos no quadro da nossa Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional.
Trata-se de um importante passo rumo à convergência de políticas e programas
para que, a
médio e longo prazos, possamos contribuir para a redução drástica da fome
nos nossos países.
É nosso desejo que o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional, órgão
especializado de assessoria à Conferência dos Chefes de Estados e de Governo
seja dotado de recursos necessários para a realização do seu mandato.
Na concretização do nosso compromisso de assegurar o direito à
alimentação a todos os cidadãos da CPLP,contamos com a valiosa colaboração da
FAO, que tem propiciado a consolidação das políticas e estratégias dos Estados
membros no domínio da segurança alimentar e nutricional.
Um outro tema que dominou as nossas atenções prende-se com a promoção e
difusão da língua portuguesa. Trazemos, assim, à atenção desta Cimeira,a
realização, em Lisboa, em Outubro de 2013, da Segunda Conferência Internacional
sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema
Internacional e a consequente aprovação do Plano de Acção de Lisboa,
quadro orientador para a definição de políticas e acções para a contínua
valorização e afirmação da língua portuguesa como nosso património comum.
Notamos, com muito agrado, a crescente afirmação da língua portuguesa nos
diferentes quadrantes do globo, mercê da nossa acção diplomáticaformal e das
nossas comunidades na diáspora. A riqueza e diversidade das culturas de cada um
dos nossos países é um outro factor de
relevo que em muito tem contribuído para essa crescente disseminação e
valorização da língua portuguesa para além dos limites da nossa comunidade.
Uma vez mais, a exiguidade de recursos financeiros constitui um entrave à
fluidez das acções da nossa organização, desta feita, no desempenho do
Instituto Internacional de Língua Portuguesa e no cumprimento das suas
obrigações estatutárias. Urge, pois, que identifiquemos formas alternativas de
financiamento das nossas acções.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,Ao completar o décimo oitavo aniversário,
a CPLP regista
nos anais da sua história importantes conquistas que importa preservar e
exaltar. Elas constituem um legado que a projecta para um elevado estatuto de
actor de relevo na formulação de respostas aos múltiplos e complexos desafios do
desenvolvimento, da paz e da segurança nos seus Estados membros e a nível
internacional.
Para o futuro da nossa Organização, importa uma reflexão aprofundada
sobre as estratégias e os mecanismos que permitam responder à dinâmica dos
desafios que o processo
de globalização nos impõe.
São sete os desafios que gostaríamos de reiterar nesta augusta
assembleia,depois de os termos articulado, de forma detalhada, na Sede da nossa
organização, em Lisboa, nos princípios deste mês.
Apresentamo-los na perspectiva de que sirvam de elementos a considerar no
delinear de novas estratégias para o contínuo sucesso da nossa CPLP. Esses
desafios são:
v A necessidade de a CPLP se manter como um factor de
agregação de sinergias;
v A preservação da paz e da segurança, alicerces sobre
os quais assenta o projecto que pretendemos edificar;
v O imperativo da garantia da segurança alimentar e nutricional;
v A integração económica, para a qual os factores descontinuidade
geográfica, pluri-continental (idade) e multi-regionalidade que caracterizam a
CPLP representam um potencial de oportunidades que importa explorar;
v A promoção do crescimento económico e do emprego;
v A mobilização de recursos para os programas de cooperação
sectorial e para a estrutura executiva; e
v O criterioso alargamento da CPLP.
Perante estes desafios, a República de Moçambique reafirma o seu
compromisso de continuar a contribuir para a elevação da fasquia de desempenho
da CPLP e para a consolidação dos laços que unem os nossos povos e países.
Neste sentido, encorajamos todos os Estados membros a prosseguirem, com o
apoio do Secretariado Executivo, o exercício de reflexão sobre o futuro da
nossa Organização,
a ser formalmente desencadeado na presente sessão.
Formulamos votos para que os nossos debates e reflexões que nos conduzam
a deliberações que permitirão consolidar o lugar e o papel da CPLP no sistema
internacional.
À presidência de Timor Leste, desejamos os melhores êxitos e reiteramos o
nosso inteiro apoio para tornar cada vez mais real a dimensão, relevância e
acção da CPLP no mundo.
A terminar, deixamos a nossa palavra de apreço ao Secretário Executivo, o
Embaixador Murade Murargy, aos funcionários do Secretariado Executivo e ao
Director Executivo do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, pelo seu
incansável empenho em prol do engrandecimento desta organização de todos nós.
Muito obrigado
pela vossa atenção!
Nenhum comentário:
Postar um comentário